
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2006, existem no DF cerca de 23 mil crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, vítimas do trabalho infantil. Apesar do Governo Federal transferir anualmente para o GDF recursos financeiros no montante de R$ 215 milhões para a execução de programas sociais, o número de crianças trabalhando continua crescendo. O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) garante ao DF R$ 578 mil anuais para serem utilizados em ações socioeducativas, capazes de atender 5 mil crianças e adolescentes entre 7 e 15 anos. No entanto, somente 3444 crianças estão incluídas no PETI. Ainda segundo dados do próprio GDF, dessas apenas 1784 (51,8%) freqüentam as ações socioeducativas.
“Às vezes o trabalho é muito cansativo. Chego em casa tarde com meu pai, e tenho que acordar cedo”, diz Felipe. O ambiente de trabalho também não é dos melhores. Segundo ele, algumas pessoas vão até lá para comprar drogas e se prostituir. “Quando o clima aqui fica muito pesado, meu pai me manda ir embora, e fica sozinho até tarde”, revela. Apesar de tudo, o jovem sonha em se formar, ser advogado ou delegado. Sua única certeza é a vontade de tirar a família da pobreza e do sofrimento.
Chico, 39 anos, pai de Felipe, sabe que a rotina de ter que estudar e trabalhar é cansativa, mas acha que essa é a melhor forma de manter o filho longe da marginalidade. “Se eu não trago ele pra cá, para trabalhar, ele pode acabar virando um marginal. Moramos no Varjão, e prefiro trazer meu filho comigo do que deixá-lo solto por lá”, afirma.
No DF, as crianças concentram-se em trabalhos domésticos ou informais
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que, no mundo, cerca de 165 milhões de crianças de 5 a 14 anos são vítimas do trabalho infantil. No Brasil, os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que haviam 5,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade trabalhando em 2006. Ao contrário dos outros estados do Brasil, onde a maior parte das crianças e adolescentes está em atividades agrícolas, no DF, a grande maioria realiza trabalhos domésticos ou informais.

Maria*, 14 anos, e Ana*, 13 anos, irmãs por parte de pai, fazem parte dessa estatística. Depois da escola, onde Maria cursa a 4ª série e Ana a 3ª série, elas vendem balas na Rodoviária de Brasília para ajudar a família. Ambas moram com as mães em Brasilinha (Planaltina de Goiás), a cerca de 50 km de Brasília. Maria tem 7 irmãos. Ana tem 6. A rotina de trabalho não é fácil. “O que eu acho mais ruim é ter que ficar aqui, andando o dia todo, as pessoas num compram, muitas mandam a gente caçar o que fazer”, diz Maria. Por dia tiram até R$ 20, dinheiro utilizado para comprar comida, roupas e material escolar. Segundo ela, a mãe já se cadastrou no Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal, mas até hoje não recebeu o cartão.
Ana não tem muitas pretensões. “Só penso em ajudar minha mãe”, diz. Já Maria sonha ser dançarina de funk, e ter condições para ajudar a família e tirar o irmão da marginalidade e das drogas. Sua irmã, de 16 anos, está grávida. Era casada, mas se separou do marido, dependente químico. “Nunca tive vontade de usar droga. Só dá cemitério, morte e cadeia”, completa.
Segundo Demetrio Weber, repórter do jornal O Globo, o trabalho infantil é uma violência: rouba a infância e o futuro de quem é obrigado a trabalhar. Para ele, na rotina de trabalho, a criança se depara com relações do mundo adulto para as quais não está preparada. “Lugar de criança é na escola. Os primeiros anos de vida são decisivos para a formação da personalidade e o desenvolvimento das potencialidades do ser humano”, declara. Weber considera o PETI, que foi incorporado ao Bolsa Família, como uma boa iniciativa. “O governo dá dinheiro aos pais para que os filhos deixem de trabalhar e freqüentem a escola”, conclui.
OBS: * Nomes fictícios para proteger a identidade dos entrevistados, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Joelma Aparecida e Giselle Silva
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